sexta-feira, 11 de agosto de 2017

“O meu pai foi melhor do que eu”


“O futebol oferece-nos coisas muito positivas, inclusive grandes amigos, mas também momentos de reconhecimento das nossas qualidades morais e desportivas e, naturalmente, os títulos que colocamos sempre à frente daquilo que conquistamos no futebol, mas que, afinal, não são de todo o mais importante nas nossas vidas”, revelou Vítor Rolim, numa retrospetiva muito sincera e realista sobre a sua carreira de futebolista.

Texto e foto Firmino Paixão


O defesa central do Futebol Clube castrense, de 30 anos, nascido em Beja, filho do antigo futebolista António Rolim (internacional juvenil em 1978), acrescentou mesmo que “sempre pensei que o futebol seria uma paixão efémera e que quando fosse para a universidade não me conseguiria manter em atividade, mas consegui, estudei em Beja e nunca deixei de jogar”. Licenciado em Desporto, pela Escola Superior de Educação de Beja, com mestrado na área da Educação Física, leciona aulas de grupo num ginásio local.
O primeiro contacto com o futebol foi entre os postes “por influência de um colega do meu pai, o Lela, um grande guarda-redes dessa época que me meteu o bichinho. Eu ia ver os jogos do meu pai e, no intervalo, ia para a baliza. Tenho ideia de ver o meu pai jogar, já muito em final de carreira, no Cabeça Gorda, e acabei por aparecer na baliza nos meus primeiros tempos de jogador, mas cheguei a um ponto em que não me identificava com o lugar”.
Percebe-se, por isso, que se inspirou no exemplo do pai, concordou Vítor, sem evitar um lamento: “Infelizmente não tenho as qualidades que o meu pai tinha nessa altura. Ele foi um grande jogador. Muita gente nem sabe que ele foi internacional”. A verdade é que os tempos são diferentes e o futebol também evoluiu, mas Vítor tem a certeza que: “O meu pai foi melhor jogador do que eu sou. Tenho recordações dele como futebolista, também ouço as pessoas dizerem que ele era um jogador mais criativo, era um número 10 que fazia golos e fazia a equipa jogar, tinha muita qualidade técnica. Eu caracterizo-me mais como um jogador ‘raçudo’, que não vira a cara à luta, tenho uma boa disponibilidade física e jogo num setor mais recuado. Algumas pessoas dizem que a qualidade técnica não abunda, mas eu sinto-me bem”.
Tem nos pais os seus melhores adeptos e o progenitor é mesmo a sua consciência crítica: “O meu pai corrigi-me sempre que eu estou menos bem e na véspera dos jogos dá-me algumas indicações e tenta motivar-me para que eu seja cada vez melhor. Só tenho que me sentir grato por isso”, confessou o atleta.
Vítor Rolim começou a sua carreira desportiva, à semelhança de tantos outros jovens bejenses, no antigo Flávio dos Santos: “Iniciei-me nas escolinhas do Desportivo de Beja, treinado pelo ‘Ildo’. Mais tarde o clube suspendeu o futebol de formação, cedeu os jogadores ao Despertar e eu lá mudei de camisola. O Despertar recebeu-me da melhor forma, estive até à idade de juvenil”.
Ainda no escalão de júnior voltou ao Desportivo, clube onde viveu um tempo inesquecível: “Acabei por fazer 30 jogos na 3.ª Divisão, foi o momento que me marcou”. O futebol é assim, tem estes momentos mágicos, mas, às vezes, também se marcam golos na própria baliza: “Felizmente são mais os que marco na baliza contrária, mas já marquei alguns na minha”, brincou o defesa central do castrense.
Vítor Rolim chegou ao castrense pela mão de Carlos Simão, numa primeira oportunidade ficou duas épocas, entretanto saiu e regressou na temporada de 2011/12 para não mais deixar o clube. Cumpre no emblema do Campo Branco a sua nona temporada, sétima consecutiva. Uma invulgar paixão clubista? “Bom, paixão é capaz de ser um sentimento um bocadinho forte”, disse o jogador, adiantando que “o castrense tem boas condições, tem sido um percurso gratificante, fui ganhando mais confiança e algum estatuto, podemos dizer assim, fui ficando e até agora tem sido muito bom”. Ganhou também a braçadeira de capitão e isso porque: “Sou dos atletas mais antigos no clube, dá-me algum estatuto e também muita responsabilidade, mas não me sinto mais do que nenhum dos outros jogadores, sou mais um, mas como estou há mais tempo cabe-me a mim ter essa responsabilidade”.
Quanto ao futuro, aos sonhos que ainda alimenta, o jogador respondeu que: “Às vezes o meu pai faz-me essa pergunta e eu respondo que não me sinto velho de todo, ainda posso dar muito ao futebol”. Mas um dia terá de retribuir ao futebol tudo o que de bom ele lhe tem proporcionado: “O processo normal é evoluirmos de jogadores para treinadores. Sou licenciado em Desporto, fiz o mestrado em Educação Física, tenho o curso de treinador nível 2, portanto tenho apostado na minha formação académica, foi um alvo que esteve sempre no meu horizonte”, concluiu.

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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